A GUERRA DE DADOS ESTATÍSTICOS DO INE CONTRA STAE É INJUSTA

Se me dessem a oportunidade de optar entre os dados estatísticos do INE, incluindo os da contagem da população moçambicana, e do STAE, eu optaria definitivamente pelos do STAE.
Optaria imutavelmente pelos do STAE, porque contêm elementos de prova, uma vez que estão sustentados com documentos de identificação física do recenseado, e dai serem mais credíveis, mais comprovados e por isso fiáveis.
Enquanto os do INE limitam-se a providenciar o nome do recenseado e quase NADA mais, os do STAE providenciam mais do que o nome do recenseado. Os do STAE providenciam também um cartão intransmissível do próprio eleitor recenseado para poder votar, onde ainda está inscrito o seu nome completo, estampado a sua cara ou face, nele vêm impregnadas as suas impressões digitais e estão contidos no Sistema Online do próprio STAE. Isto tudo são provas de que a pessoa que o STAE recenseou existe de facto, e será a mesma e unicamente essa pessoa que se fará presente em pessoa na tenda ou local contendo a urna em que irá votar como um vivo no dia 15 de Outubro próximo.
Por isso, nesta polémica sobre o número de eleitores que foram recenseados em Gaza pelo STAE e que é posto em causa por algumas das partes interessadas pelo bom desfecho das próximas eleições gerais moçambicanas, há perguntas que, quanto a mim, não são feitas e que obviamente não estão sendo respondidas. Tais perguntas são para mim as seguintes:
1 – Como é que o STAE poderá ter forjado pessoas que não existem em Gaza, se o seu recenseamento é presencial, portanto, só pode recensear quem se faz presente pessoalmente nos seus postos fixos?
2 – Mesmo assumindo hipoteticamente que forjou muitas pessoas que não existem, como sejam os tais mortos ou crianças de que se diz que foram também recenseados, como é que irão sair dos cemitérios e das creches para irem votar, se para votarem terão que estar presentes em pessoa nas urnas e serem escrutinados que são os donos dos cartões de eleitores de que serão portadores?
3 – Ora, como é que tais forjados ou mortos irão poder votar se as urnas estarão sob uma grande vigilância e controlo tanto dos oficiais do STAE, da CNE bem como dos delegados de todos os partidos políticos que irão concorrer a estas eleições, e ainda dos milhares de observadores nacionais e estrangeiros que também estarão de olhos postos nessas urnas, para além dos numerosos jornalistas moçambicanos, muitos deles sem amor pela FRELIMO, e os seus colegas estrangeiros que também irão cobrir estas eleições tidas como tira-teimas?
4 – Tendo em conta todo este escrutínio, como é que a FRELIMO irá usar tais eleitores a mais para fazer o tal alegado ENCHIMENTO das URNAS que se diz que é para isso que se fez o tal RECENSEAMENTO FORJADO, se as urnas estarão sob uma forte vigilância tanto dos delegados dos próprios partidos como dos observadores nacionais e estrangeiros e dos jornalistas?
5 – Como é que a FRELIMO fará os tais enchimentos tendo em conta que as urnas em Moçambique não só são transparentes, como são super-inspeccionados antes e depois de se começar com a votação, para além de que a contagem começa imediatamente e de forma ininterrupta logo que o processo de votação termina?
6 – Como é que a FRELIMO arriscou tanto assim recenseando tais crianças e mortos, em Gaza, a escassos meses para o dia 15 de Outubro? Como é que tais crianças foram mobilizadas e como é que irão adquirir de Abril último a esta parte o aspecto físico de adultos para que não sejam detectados quando se fizerem presentes nas urnas já no dia 15 de Outubro próximo, ou seja, daqui a três meses?
Há que vincar que antes de essa pessoa votar será cuidadosamente identificado com base nesse seu cartão de eleitor que lhe foi emitido pelos recenseadores do STAE pelos que deverão zelar pela urna para que só votem os que constam nos cadernos de recenseamento. Tudo isto leva-me a não ver como é que se dá só crédito aos dados do INE, e não também aos do STAE, não obstante estes contenham como já disse, mais elementos de prova que os do INE. Por isso, se mostram que são dados reais e não forjados através de métodos de estimação como geralmente fazem a maioria dos Serviços de Estatística dos países africanos, como bem o denuncia o académico norte-americano Morten Jerven, no seu mais vendido livro POOR NUMBERS ou POBREZA de NÚMEROS em tradução livre para português. Jerven diz que para serviços como INE fossem fazer bem o seu trabalho em África, deviam ter as mesmas excelentes condições de trabalho e de remuneração como os dos Bancos Centrais em que os seus funcionários recebem altíssimos salários.
Através deste livro POOR NUMBERS, o académico norte-americano prova que os serviços de estatística em África mentem, porque não têm meios humanos, materiais e financeiros para garantir a recolha ou compilação de todos os dados da população como das diferentes esferas da actividade social, económica, da construção civil, dos transportes públicos, da produção agrícola, da actividade comércio, da produção industrial e de muita e muitas outras áreas. Jerven fez uma aturada investigação em, vários países africanos, incluindo Moçambique, e concluiu que ‘‘muito do que existe e se faz em África não é estatisticamente contabilizado ou compilado, e que por isso a pobreza que é espelhada sobre o continente é de números e não real’’. Jerven cita centenas de outros académicos dos EUA, Europa, África e Ásia que também dizem que nem tudo o que se lê nas estatísticas é correcto, muito menos dos de muitos países africanos.
É por isso que deu o título POOR NUMBERS ao seu livro. Jerven constatou que à totalidade do que se apura no sector agrícola era estimado pela tendência dos factores climatéricos e com base nisso, se determina estimativamente as quantidades que se assume que colheram em cada época agrícola. Diz que para o resto dos sectores, não há nada com que se baseiam para fazerem as suas estimativas, e vai-se daí concluir-se que em quase todos os países africanos tudo é feito por estimativa baseada em dados forjados.
Assim, ele apurou que no sector da construção assume-se que o seu crescimento é equivalente ao da produção e importação de cimentos. Quanto ao do comercio, armazenamento e dos transportes são assumidos como tendo o mesmo crescimento como o da agricultura e produção animal, enquanto no dos negócios é assumido como crescendo ao mesmo nível que o do comercio e dos transportes.
Antes deste POOR NUMBERS, houve um outro académico norte-americano que publicado 50 anos antes outro livro que registou vendas recordes com o titulo How to Lie with Statistics ou Como Mentir com Estatísticas. Ora, será que nós somos ou temos estatísticas que não nunca mentem ou que são excepção? A minha resposta é toda negativa. Não somos excepção, se bem que podemos ser menos mentirosos. Não temos tudo certo, esmo que haja quem o negue dizendo que o nosso INE não é parte dos que nos mentem com dados estatísticos. Não podemos negar que somos aprendizes em tudo, incluindo na estatística, educação e no jornalismo de que eu sou um dos actores. Não é por acaso que a FRELIMO dizia no começo da nossa independência que iríamos ‘’aprender a governar governando’’. Há coisa de 10 anos integrei uma Equipa dum Projecto da FAO. A minha missão era escrever artigos que tivessem dados reais sobre a produção agrícola em Moçambique. Quando já estava para começar a recolha de dados, fui alertado por um destacado funcionário do Ministério da Agricultura para não me basear nos dados estatísticos que eram apresentados pelos Governos provinciais, porque segundo ele, eram forjados só para dar a impressão de que nessas províncias se estava a trabalhar a serio.
O tal funcionário sugeriu-me então que fosse ao Departamento de Estatística do próprio Ministério, mais concretamente com um tal Domingos Diogo (não o medico Domingos Diogo e irmão da ex-PM Dra. Luísa Diogo). Confesso que fiquei bastante chocado ao ser confrontado com uma realidade que me mostrou quão as nossas estatísticas sobre a agricultara são adulteradas. Foi quando percebi porque é que temos ‘’tanta produção de comida’’ mas nunca atingimos a auto-suficiência alimentar. É que essa ‘’tanta produção de comida’’ não é realística, e nas vezes em que é realística, não é toda escoada para onde deve ser consumida, que é nas zonas urbanas. Apodrece onde é produzida como no Niassa, onde vi várias vezes frutas apodrecerem debaixo das mesmas arvores que as tinham gerado, porque não há vias de comunicação para leva-los aos mercados. Portanto, conta-se a mais o que não existe, como se conta menos o que existe. Mas o que é mais comum é contar-se menos do que se tem ou do que somos no caso concreto da população moçambicana. Para mim contou-se menos.
Não irei dar respostas exaustivas a estas seis perguntas, mas direi apenas que a forma como o processo eleitoral é organizado e feito em Moçambique, não é fácil que haja enchimentos ou fraudes. Não permite que haja que haja pessoas fantasmas a votar e nem é possível fazer-se enchimentos de urnas porque não só são transparentes como são escrutinadas antes e depois da votação. Se tal foi possível no passado, já não é possível neste momento, porque adoptaram-se mecanismos que não são desfasáveis. Insistir em dizer que houve recenseamento de gente fantasma ou a mais em Gaza, é pura falácia. É o mesmo que dizer que a FRELIMO é mágica.
(Gustavo Mavie)