Nyusi tinha que ter também a sua primeira zanga com jornalistas
Por Gustavo Mavie
Como jornalista tenho o dever de acompanhar atentamente sempre que possível, todas as actividades publicas que são feitas pelos nossos estadistas, incluindo agora do Nyusi, para que possa fazer a cobertura (in)directa dos seus eventos e realizações.
Nessa minha missão tive várias oportunidades de estar com todos os três presidentes que já tivemos, nomeadamente Samora Machel, Joaquim Chissano, Armando Guebuza e agora Filipe Nyusi. O que me inspirou este artigo é a irritação com que o presidente Nyusi reagiu às insistentes perguntas, aliás, inquisições que lhe foram feitas em Lisboa por duas jornalistas portugueses da RDP e RTP sobre se ele teria ou não assinado os documentos que acabaram sendo usados por alguns estrangeiros e moçambicanos para se contrair as dívidas ocultas.
Confesso que foi a primeiríssima vez que vi Nyusi irritar-se ou zangar desde que comecei a cobrir os seus eventos a partir do ano de 2014 quando ainda era candidato e fazia a sua campanha eleitoral, e mais tarde já como estadista, devido a perguntas feitas por jornalistas. E há muita gente que diz de boca cheia que o compreendeu, porque de facto essas duas jornalistas portuguesas foram demasiado inquisicionistas, em vez de terem sido repórteres. Aquilo foi pior que um juiz malcriado a fazer um julgamento.
Nyusi como qualquer um de nós está no direito de responder ou não a certas perguntas. Como quem está no exercício de jornalismo há décadas já, testemunhei várias vezes personalidades recusarem responder pelas mais diversas razões. É mesmo para não responder a certas perguntas que os ingleses adoptaram o termo ‘’No comment’’. Nyusi não é o primeiro estadista e nem será o último a se irritar ou mesmo zangar.
Já vi até vários outros estadistas, incluindo de Portugal, negarem responder perguntas, e sempre que houvesse insistência do tipo inquisição com tempero a estupidez, se irritaram também como se irritou Nyusi. Não há nada de errado ou condenável nesta sua reacção. Foi apropriada à provocação e falta de respeito com que foi afrontado. Nestes casos, há que se abdicar da Bíblia e guiar-se pelo Alcorão, que ensina que há que ser justo para quem é justo e injusto para quem é injusto. Nyusi reagiu em conformidade com a malcriadez daquelas duas portuguesas.
Como disse já, antes já vi Samora, Chissano e Guebuza se irritarem ou zangarem mesmo quando um jornalista os faltou respeito. Recordo-me do Chissano zangar na então sede da ONJ, quando alguns dos jornalistas que lá estavam numa reunião faltaram-lhe respeito. Chissano fez questão de os chamar atenção que deviam saber que estão a interagir com um Chefe de Estado. Era a primeira vez que via Chissano tão zangado como esteve nesse dia. E Chissano é duma paciência e humidade que lhe podem levar figurar no livro de Recordes Guinness Book. Recordo-me também dum jornalista que tentou humilhar Samora, perguntando-o quais eram as suas habilitações literárias. Todo irritado e irado, Samora vociferou contra ele dizendo-o que o seu curso universitário tinha sido os 10 anos da luta armada. O tal jornalista sabia que Samora não era detentor de nenhum grau universitário. E não era o primeiro estadista sem tal grau. Era só porque era negro.
Já vi até monarcas perderem a cabeça como o fez uma vez o Rei da Espanha Juan Carlos, quando aos berros vociferou também contra um presidente ‘’porquê não te calas?’’. Quem não se lembra desta boca do monarca espanhol? Das zangas do Donald Trump também contra jornalistas vi e ouvi tantas que já deixei de contar.
Nyusi também é um ser humano como qualquer um de nós. A sua paciência e tolerância têm um limite. Qualquer um de nós chega o momento em que o nosso saco fica cheio e já não pode receber mais sapos. Somos todos feitos de carne sensível às provocações, principalmente quando roçam à humilhação e falta de respeito, logo a um estadista. É por isso que ele também insistiu em dizer àquelas duas tugas que era Presidente de Moçambique. Aquelas duas tugas recordaram-me mais pela semelhança do seu modus operando, o tempo em que os colonialistas portugueses tratavam às pessoas da nossa cor como bestas para carga. Elas devem ter ainda esse bichinho colonial.
Entendo que foi normal Nyusi se irritar, porque de facto aquelas duas jornalistas não fizeram perguntas mas sim inquisição como disse já. O facto é que Nyusi não se irritou porque achasse que eram perguntas que lhe pudessem comprometer. Não foi por isso. Digo isto porque ainda há poucas semanas Nyusi respondeu a perguntas quase iguais aqui em Moçambique durante uma entrevista que deu ao fogoso Editor do Canal de Moçambique, Matias Guente. Respondeu a todas porque Matias Guente fê-las como respeito e não com ares que só nos trouxeram de volta os trágicos anos da colonização. Aquelas duas inquisicionistas estavam preparadas a humilhar Nyusi e não a entrevistá-lo. A maneira tão grosseira como se dirigiram a ele era como se estivessem a lidar com alguém que é ladrão e não um estadista que a pratica internacional recomenda que seja tratado com respeito e dignidade, quanto mais quando era hóspede do presidente português. Por isso Nyusi estava no seu direito defender a sua dignidade tanto como pessoa e mais como Chefe de Estado moçambicano.
Nyusi já deu mais do que uma prova de que não teme nada em torno das dívidas ocultas, porque tem consciência de que não se beneficiou delas. Já ouvi várias pessoas que conhecem os meandros em que este calote foi engendrado. Foi com base no que fui aferindo que em 2017 escrevi um artigo no Semanário Estrela, em que dizia já nessa altura, que o Caso EMATUM poderia vir a ser a maior fraude conhecida na Historia de Moçambique. Isto foi antes da divulgação oficial do Relatório da Kroll.
O que me convence mais de que Nyusi não pode ter sido um dos beneficiários das dívidas ocultas é que foi ele que autorizou a mesma Kroll viesse fazer a Auditoria Forense. Ora, a menos que ele fosse um kamikaze, não vejo Nyusi a ordenar uma investigação num caso em que ele próprio teria metido a mão. Antes disso, Nyusi disse durante o seu primeiro Informe ao nosso Parlamento que no ‘’Caso Ematum há indícios criminais’’. E de lá para cá Nyusi tem dado provas de que é um dos que quer saber o que se fez dos mais de dois biliões.
Será que tudo isto não basta para que não se faça mais perguntas a ele, e esperarmos, como o próprio Nyusi o tem dito, que sejam as instâncias judiciais a nos explicarem sobre como se fez este mega-calote? Faz-me grande vergonha quando vejo alguns compatriotas fazerem coro e ovação à provocação feita contra o nosso Presidente. Que grande falta de patriotismo meu Deus?! Nyusi tinha que ter também a sua primeira irritação ou zanga, tal como tiveram os que o antecederam e outros que houve e há por esse mundo fora. gustavomavie@gmail.com
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