Pacientes com HIV positivo abandonam tratamento devido à Covid-19
Alguns pacientes diagnosticados com HIV positivo que vinham seguindo o tratamento no Centro de Saúde 1º Maio, na cidade de Maputo, deixaram de afluir àquela unidade hospitalar. Este facto pretende-se, segundo Irene Chirindza, directora clínica do centro, com as medidas de restrição impostas pela pandemia da Covid-19.
Para colmatar a pouca afluência de pacientes em tratamento do HIV, Irene Chirindza disse à nossa reportagem que foram traçadas estratégias para melhorar o seguimento das consultas, que consistem na sensibilização dos pacientes para continuarem a fazer o tratamento. Igualmente, houve buscas através de ligações telefónicas para melhorar os serviços, uma vez que a actividade comunitária foi encerrada por causa da pandemia da Covid-19.
Antes, acrescenta a directora clínica, o paciente faltoso ou que abandonava o tratamento era buscado na sua casa para o hospital. “Com a pandemia da Covid-19 a busca domiciliar parou, já não é possível ir fazer a busca do paciente. Ficou a busca telefónica, mas há pacientes que o telefone já não chama. E para esses pacientes abre-se uma excepção de busca ao domicílio para aferir a real situação desta pessoa”, explicou.
A fonte acrescentou que o Centro de Saúde 1º de Maio melhorou no seu seguimento das consultas, implementando medidas de protocolo sanitário como o distanciamento social, bem como a alteração da periodicidade das consultas, ou seja, as consultas feitas mensalmente passaram a ser trimestrais, excepto para as mulheres grávidas e crianças menores de idade.
A explicação é de que as crianças estão ainda na fase de crescimento e precisam de medicação e atenção, mas no geral outros pacientes só precisam de medicação de três em três meses, e outros em seis, para evitar aglomerações, propagação e contaminação pela Covid-19, pois esses pacientes são vulneráveis.
Mulher grávida deve ser testada ao HIV
Relativamente a mulher seropositiva, a nossa fonte afirmou que há necessidade de esta continuar a ser testada ao HIV para evitar a contaminação vertical, ou seja, para não contaminar a criança, por isso o MISAU adoptou um sistema em que toda a mulher grávida que abre a ficha de pré-natal deve fazer testes essenciais de sífilis e HIV/SIDA, porque estas são duas doenças transmissíveis e que se pode prevenir.
“Todas as mulheres grávidas devem fazer esses testes, assim como o da malária e outros, mas o teste de HIV/SIDA é obrigatório. Toda a mulher é rastreada, quando o teste é positivo essa mulher deve fazer o tratamento, pois quando o tratamento de HIV/SIDA for feito a tempo pode-se diminuir o risco de transmissão para o filho. Quando a criança nasce é dada um xarope e entram em seguimento outros testes para saber se esta está ou não contaminada. Se a mãe é diagnosticada ainda com um ou dois meses e tomar devidamente a medicação, esta pode nascer um filho sem o vírus”, lembrou a directora.
A pandemia não é motivo para abandonar o tratamento
Angelina Mandlate vive com o HIV no seu organismo e aceitou falar da sua experiência com a nossa reportagem em tempos da pandemia da Covid-19.
Mandlate começou por dizer que viver com o HIV/SIDA não é difícil, só é difícil quando não se cumpre com o tratamento.
A fonte disse que mesmo com a Covid-19 e com todas as restrições impostas pela doença nunca pensou em desistir do tratamento, porque só assim poderá continuar a ter uma vida saudável.
A entrevistada falou também de pessoas que ainda são reticentes em conhecer o seu estado serológico. “Por exemplo, a esposa do meu filho, portanto a minha nora, é seropositiva. O meu filho fez o teste uma vez e deu negativo, mas agora não aceita voltar a fazer o teste”, diz a entrevistada.
Angelina Mandlate deixa um conselho para as pessoas portadoras da doençaꓽ “façam o tratamento porque se ficarem por muito tempo e serem levados para hospital de carrinha de rodas isso não ajuda. Esse já é um sofrimento não só para o próprio doente, mas também para a família”.