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Importação de modelos retrai soluções locais

Importação de modelos retrai soluções locais

O lugar é morto quando não produz histórias e não evoca memórias – citando Mia Couto, o arquitectomoçambicano, AdamoMurrombe não têm dúvidas que o modelo de edificações e construções urbanas descontextualizadas da realidade moçambicana poderá resultar a uma dependência crescente do que vem de fora o que não é economicamente viável. Adamo Murromberefere que tais modelos, na sua maioria importados colapsam soluções internas deixando-nos na dependência das soluções impostas pela globalização.

Novas construções com modelos completamente ocidentais. Mas, que ao mesmo tempo não respondem ao nosso contexto. É desta forma como são edificadas as residências e cidades cujo conforto depende da criação de soluções térmicas para o efeito. Adamo Murrombe é arquitecto e transferiu-se de Maputo à cidade de Tete, concretamente no distrito de Moatize. Inseriu-se na comunidade de Benga, há cerca de uns 8 quilómetros da cidade de Moatize. Diariamente observa que as construções naquele ponto são feitas de material local o que de algum modo permite com que haja convergência entre o tipo de material usado e a temperatura daquela região. “São construções feitas de material local. A argila produz blocos que permitem com que as comunidades edifiquem suas casas” exemplificou para seguidamente responder a nossa questão.

É possível edificar uma cidade a partir destes princípios do local?

Respondendo a essa questão, Adamo Murrombefoi categórico ao afirmar que a questão do local deve ser vista na escala apropriada, ou seja soluções locais para questões locais e universais para as questões universais. Construir edifícios que se adaptam as questões climatéricas locais, segundo Adamo Murrombe essa solução não é nada de novo.”OPancho Guedes já fazia isto nos anos 60, inspirou-se em certas formas tradicionais para fazer alguns dos seus edifícios” introduziu a fonte. Mas, nós podemos ir mais longe, porque não aproveitar a estrutura das nossas organizações sociais para fazer a estrutura física dos nossos edifícios e cidades, integrar antropólogos e sociólogos para revelarem estas estruturas socias?Um exemplo prático é a questão do autocarro, o autocarro é uma máquina que se vai tornando mais privilegiada e vai dominando o espaço do peão, isto é, quando desces (sais) do carro não tens espaços de qualidade para ficar. Portanto, há vários estudos internacionais que indicam que uma hierarquia de estradas em que o agrupamentos de edifícios em uma escala de quarteirões que terminam em impasse, e ruas limitadas só para peões, permite recuperar este espaço público na escala humana sem pôr em causa a circulação da viatura, os nossos filhos podem brincar nessas ruas sem que tenhamos medo de serem atropelados porque estarão em segurança de uma comunidade semifechada.

Recuperar as formas de organização tradicionais de fazer

Reparei, que sobretudo nas zonas periféricas há uma tendência de se construir uma cozinha exterior ou uma barraca, não é isto uma referência a casa tradicional?A fonte que vimos a citar admite que sim, é recorrente as pessoas contruírem uma casa principal com anexos (dependências), casa de banho exterior e cozinha exterior, portanto pode se verificar na arquitetura tradicional o mesmo sistema de hierarquia de palhotas, cozinha e casa de banho exterior, definitivamente é um padrão, esta questão de modernizar o tradicional não é uma invenção minha, é uma realidade que vivemos, apenas sugiro abraçá-la de uma forma consciente.

Sobre o projecto Aldeias Comunais do presidente Samora Machel, Adamo Murrombe admitiu não ter uma resposta a altura uma vez que teria que fazer um estudo do projecto. Entretanto, entende a fonte que o termo comunidade é muito interessante, se me permite citar o Mia Couto novamente, falando das suas memórias de infância ” A minha casa, o meu bairro…nesse espaço infinito, perdemos a fronteira entre a casa e a rua…” Eu acredito que ele capturou a essência de forma de habitar da cultura moçambicana, a NationalGeographique já apadrinhou Moçambique como a terra da boa gente. Depois da independência, quando as cidades foram nacionalizadas, sobretudo nas zonas periféricas as pessoas abriam as portas da cozinha o dia todo estendendo a casa até as varandas e corredores comuns dos prédios onde pilava-se, peneirava-se, crianças brincavam, tornando os em espaços de vida onde as pessoas habitavam em comum e as fronteiras entre uma casa e outra dissolviam-se. Essa forma de apropriar os espaços é tipicamente nossa, nos somos um povo caloroso, se projectarmos as nossas cidades tomando isto em conta, podemos projectar cidades que promovam o nosso espirito caloroso, extrovertido. Note que este é umpadrão que podemos verificar nas cidades pôs coloniais, a adaptação das infra-estruturas coloniais de acordo com as culturas locais depois das nacionalizações. Por exemplo a Argélia que tem um cultura introvertida, houve uma tendência de cobrir as janelas dos prédios tal como a Medina de Cazbah.

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