Desespero pode facilmente alimentar a insurgência em Cabo Delgado
O director do Centro de Integridade Pública (CIP), Edson Cortez, diz que a falta de esperança, num contexto de paz, faz com que muitos jovens sejam facilmente recrutados por grupos armados, que há cerca de três anos, vêm atacando a província moçambicana de Cabo Delgado.
O Presidente moçambicano, Filipe Nyusi, na sua deslocação a Pemba, esta segunda-feira, 31, admitiu que os grupos que protagonizam ataques armados em Cabo Delgado, estão a explorar a pobreza no seio dos jovens da província para recrutá-los para as suas fileiras.
“Hoje compreendemos de modo mais nítido e seguro que estamos perante uma rede internacional que está a mover uma agressão contra o nosso país, uma rede de terrorismo, que explora a pobreza no seio dos jovens da província de Cabo Delgado para recrutar membros”, disse o estadista moçambicano.
O director do CIP, Edson Cortez, diz que há bastante tempo que a sociedade civil vem chamando a atenção para o facto de que o problema de Cabo Delgado é estrutural.
Ele avançou que “as pessoas aceitam ser mobilizadas pelo movimento Estado Islâmico ou outro grupo, para entrarem numa dinâmica de guerra de desestabilização, porque num contexto de paz não têm esperança. Em Cabo Delgado, a maior parte dos jovens vive na pobreza”.
Falta coesão interna
Em muitos países, sobretudo africanos, não obstante existirem muitos recursos naturais, a sua exploração tem atraído muitos conflitos internos, e estes tanto podem ser provocados internamente, como podem ser alimentados externamente.
O académico Ismael Mussá diz que uma melhor coesão interna na distribuição dos dividendos desses recursos, sobretudo através de investimentos em setores que criem oportunidades de emprego para jovens, pode evitar a instabilidade como aquela que se regista em Cabo Delgado.
Entretanto, o director do Centro para a Democracia e Desenvolvimento (CDD), Adriano Nuvunga, diz que coesão interna é o que tem faltado no país, sendo por isso que os jovens se aliam aos grupos armados em Cabo Delgado.
Por seu turno, o jovem Abdul Sulemane considera que a questão de trabalho poderia ser minimizada por uma boa política de emprego juvenil.”Temos vários milhares de jovens sem emprego neste país”, lamentou.