SERNIC inviabiliza entrega de armas a Pemba

O Serviço Nacional de Investigação Criminal, SERNIC, na província de Cabo Delgado apresentou à imprensa, na semana finda, um suposto integrante do grupo de insurgentes que ataca aquela região do país desde 2017.
A neutralização do supeito pelo SERNIC, ocorreu no passado dia 12 de agosto, numa paragem de autocarros em Pemba. Na posse do homem estavam duas pastas contendo cinco armas de fogo, 10 carregadores (sete dos quais contendo munições e três vazios), seis pares de fardamento militar, quatro camisolas militares e um par de botas, informou o SERNIC.
A encomenda contendo o material bélico saía do distrito de Mueda – a mais 300 quilómetros de Pemba e a cerca de 100 quilómetros de Mocímboa da Praia – e deveria ser entregue a uma cidadã em Pemba, relatou o indivíduo.
O diretor do Serviço Nacional de Investigação Criminal, em Cabo Delgado, Ntego Crisanto Ntego, não tem dúvidas: trata-se de uma operação que visava movimentar armamento para Pemba pelo grupo armado, que tem feito ataques naquela região de Moçambique.
A história nos diz que os insurgentes, quando estão para entrar num território, primeiro fazem adiantar o equipamento e depois é que eles vêm [vestidos] à civil. Portanto, nós entendemos que isso fosse o ‘modus operandi’ dos insurgentes, descreveu.
Culpa é um primo militar
Detido em Pemba, o indivíduo justifica que foi apenas cumprir o pedido de um primo seu, que é militar e que terá solicitado para recuperar uma pasta esquecida por este num autocarro.
A pasta deveria ser, depois, entregue à mãe do referido militar, residente no bairro do Alto Gingone, em Pemba. O indiciado diz que não conhecia o conteúdo da encomenda.
Sendo meu primo, eu considerei isso [laços de parentesco]. Saí às 16 horas de casa para a estação, onde tive de esperar até às 18 horas – até a chegada do referido autocarro que transportava a pasta. Quando o Nagi [autocarro] chegou, dei sinal ao meu primo para perguntar como iríamos receber uma encomenda sem ter o número da pessoa que a transportava? Então, o meu primo fornece-me o número do cobrador e o acento onde tinham sentado antes de esquecer a pasta, relatou.
O homem diz ainda que, logo depois de receber as duas pastas do cobrador do autocarro, foi surpreendido pelos agentes do Serviço Nacional de Investigação Criminal que o detiveram em seguida.
Levaram-me ao posto deles [do SERNIC] e começaram a abrir. Depois de terem aberto as pastas e visto tudo o que havia lá dentro, perguntaram-me: ‘Quem te mandou para ir receber a pasta?’ ao que respondi que a pessoa que me mandou abrir a pasta é um militar de nome Amar Mateus. Dali, levaram-me e deixaram-me na 3ª Esquadra, acrescentou.
O suspeito foi apresentado ao juiz de instrução criminal, que legalizou e manteve a sua detenção.
Entrada de armas em Pemba
Ntego Crisanto receia que este não seja o primeiro caso de tentativa de entrada de armamento na capital de Cabo Delgado pelas mãos de suspeitos de pertencerem ao grupo de insurgentes.
Estamos já com receio de que possam ter entrado outras armas e também pode não ter entrado outras armas. O que se coloca é que, por se tratar de arma e ele sendo arguido, pode mentir, dizer que quem me deu a arma é tal fulano enquanto não é verdade. O circuito que se usou até chegar em Pemba é muito estranho. Vale a pena se fosse um militar a receber as armas, mas estamos a falar de um civil, ponderou.
A instituição trabalha agora para apurar a proveniência real, o destino e a causa da movimentação do armamento.
Além do suposto membro dos grupos insurgentes, o Sernic anunciou ainda que deteve também quatro cidadãos tailandeses que se supõe que façam parte de uma rede de tráfico de pedras preciosas em Cabo Delgado.
Segundo as autoridades, o grupo, que estava prestes a sair do país, foi detido na posse de cerca de 15 quilos de pedras preciosas, cinco mil dólares e 300 mil meticais.
As pedras terão sido levadas nas minas de Montepuez, através do garimpo ilegal, e suspeita-se que tenham funcionários públicos envolvidos no esquema, segundo as autoridades.
Os terroristas misturados com a população
O ministro do Interior, Amade Miquidade, diz que a luta contra os insurgentes em Cabo Delgado deve ser feita com muita prudência, porque eles estão misturados com as populações, mas há estabilidade, e convida jornalistas a deslocarem-se àquela província, para avaliar a situação no terreno.
Os terroristas estão misturados com a população, e nós não podemos pôr em risco a vida e a tranquilidade da nossa população. É por isso que as acções das forças de defesa e segurança devem ser muito bem medidas para que provoquem o menor dano possível às comunidades, afirmou aquele governante.
O ministro do Interior realçou que a população de Cabo Delgado está a sofrer bastante com as acções dos terroristas, e nós não queremos agravar esse sofrimento.
Contudo, Miquidade sem fazer qualquer referência a Mocímboa da Praia, considerou que apesar dos ataques, há estabilidade em Cabo Delgado, e os jornalistas podem ir testemunhar isso no terreno.
Jornalistas no palco das operacoes
O ministério do Interior convida a imprensa a ir a Cabo Delgado, para ‘in loco’ perceber o que está a acontecer. Todos nós sabemos que Cabo Delgado está a sofrer com ações dos terroristas, mas as forças de defesa e segurança tudo fazem para repor a segurança e tranquilidade naquela província, realçou.
Miquidade avançou que uma situação de estabilidade se vive também na zona centro de Moçambique, apesar dos ataques da chamada Junta Militar da Renamo.