Moçambique mantém taxa de juro e alerta para degradação económica

O Banco de Moçambique anunciou que decidiu manter a taxa de juro principal em 10,25%, antecipando um aumento da inflação, um agravamento da recessão este ano e uma recuperação lenta no próximo ano.
O Comité de Política Monetária (CPMO) do Banco de Moçambique decidiu manter a taxa de juro de política monetária, taxa MIMO, em 10,25%, a decisão é fundamentada pelo agravamento das perspetivas de inflação de médio prazo e dos riscos e incertezas, perante uma maior contração da atividade económica em 2020 e retoma mais lenta em 2021, lê-se numa nota.
O comité decidiu também manter as taxas da Facilidade Permanente de Depósitos (FPD) e da Facilidade Permanente de Cedência (FPC) em 7,25% e 13,25%, respetivamente, e manter os coeficientes de Reservas Obrigatórias (RO) para os passivos em moeda nacional e em moeda estrangeira em 11,50% e 34,50%, segundo o comunicado.
No texto, o governador, Rogério Lucas Zandamela, admitiu perspetivar “uma aceleração da inflação no curto e no médio prazo”, depois de um aumento de 2,8% nos preços em julho, acima dos 2,69% registados no mês anterior.
Para o curto e médio prazo, projeta-se um aumento de preços, a refletir, essencialmente, o efeito da depreciação do metical e da recuperação dos preços dos combustíveis no mercado internacional, não obstante a fraca procura interna, disse o governador, vincando, ainda assim, que a inflação não deverá chegar aos dois dígitos.
Para os próximos meses, concluiu o banqueiro central, o panorama não é positivo: Agravaram-se as perspetivas de contração da atividade económica até ao final de 2020, seguida de uma retoma mais lenta em 2021, alertou
Sustentabilidade economica
A presidente da Autoridade Tributária, Amélia Muendane, diz ter a certeza de que a economia moçambicana tem capacidade de se auto-financiar
Ainda segundo Amélia Muendane, é fundamental investir para que se possa ter um país autónomo, capaz de financiar o seu próprio crescimento e o seu orçamento.
Entretanto, analistas dizem que a economia nacional tem sérios problemas estruturais que precisam de ser resolvidos para que possa crescer de forma sustentável, rejeitando a ideia de que a mesma tem capacidade de se auto-financiar.
Em declaracoes tornadas publicas, Amélia Muendane, avançou que os últimos cinco anos demonstraram essa capacidade,porque funcionámos sem apoio externo, o que significa que Moçambique pode andar com os seus próprios pés.
Refira-se que vários doadores internacionais suspenderam os seus programas de apoio ao Orçamento de Estado, na sequência da descoberta das chamadas “dívidas ocultas”.
Entretanto, vários economistas consideram que os últimos anos têm sido bastante difíceis para os moçambicanos porque o custo de vida é insustentável, não só para a população vulnerável como também as classes média e alta.
Para o economista Constantino Marrengula, a economia moçambicana tem sérios problemas estruturais que precisam de ser resolvidos, para que possa continuar a crescer de forma sustentável.
É preciso, por exemplo, tornar inclusivo todo o processo de crescimento da economia, defende Marrengula, para quem é necessário fazer com que o processo de alocação de fatores de produção seja o menos violento para as comunidades desfavorecidas.
Por seu lado, o analista Fernando Lima, presidente do Conselho de Administração do grupo privado de comunicação social Mediacoop, proprietário do jornal Savana, diz ser necessário resolver o conflito em Cabo Delgado para que a economia cresça de forma sustentável.
Fernando Lima afirma haver uma percepção errada sobre o que se passa em Cabo Delgado e realça que enquanto o problema for eminentemente militar não vamos a nenhum lado.
O mesmo acrescenta que aquilo que estamos a assistir em Cabo Delgado não é a solução, é uma cada vez maior dificuldade, mesmo no plano militar, das Forças de Defesa e Segurança em enfrentar a ameaça.