fbpx

4,7 mil milhões de dólares: Os números da esperança nos Projectos de LNG da Bacia do Rovuma em tempos de muitas incertezas e riscos financeiros

4,7 mil milhões de dólares: Os números da esperança nos Projectos de LNG da Bacia do Rovuma em tempos de muitas incertezas e riscos financeiros

Desde o início de 2020 que o mercado das commodities é caracterizado por uma acentuada volatilidade de preços que tem gerado incertezas em relação ao desempenho da economia mundial.
Depois da queda de cerca de 30%1 no preço médio do petróleo bruto no mercado internacional, em resposta à queda na procura mundial por esta commodity, a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP), liderada pela Arábia Saudita, e a Rússia desencadearam, a 8 de Março, uma guerra de preços que levou a uma descida acentuada no preço do petróleo no mercado internacional.
Com efeito e conformemostram os dados da Commodities Markets, durante o primeiro trimestre de 2020, os preços de petróleo bruto, energia e gás natural baixaram em 23%, 17% e 10%, respectivamente, devido ao efeito combinado da guerra de preços e da pandemia da Covid-19.
No caso particular do gás natural, a queda do seu preço no mercado internacional começou nos finais do ano passado, devido às restrições na procura por esta commodity em decorrência da observância de um inverno pouco rigoroso na maior parte dos países do ocidente3 e que, portanto, não requeria um uso intensivo e frequente de aquecedores.
Esta situação reduziu a atractividade dos projectos de gás natural liquefeito (LNG) para os investidores, pela redução das expectativas de retorno de investimento e também pelo aumento do risco envolvido neste tipo de negócios tendo em conta as diversas adversidades políticas e sócio-económicas estruturais e conjunturais, conforme acima descrito.
Esta situação, de queda de preços do gás natural, associada ao aumento das taxas de juro e depreciação das moedas africanas em relação às principais moedas estrangeiras com destaque para o dólar americano, devido ao Covid-19, tem afectado negativamente as economias de países africanos como Moçambique, Tanzânia, Uganda e Gana, que são tidos como mercados emergentes em hidrocarbonetos e que olham para as receitas da indústria extractiva como a solução económica para saírem do ciclo de endividamento em que se encontram actualmente.
O caso de Moçambique é particularmente preocupante pelo facto de, para além de ter uma das dívidas públicas mais insustentáveis do mundo (113.7% do seu produto interno bruto) que foi agravada pelo empréstimo recente que o Fundo Monetário Internacional (FMI) desembolsou recentemente para o país atender necessidades urgentes de balança de pagamentos e fiscais decorrentes da Covid-19, a insurgência militar no norte de Cabo Delgado, onde estão concentrados os maiores e mais importantes investimentos da indústria nacional de hidrocarbonetos, tem reduzido a atractividade de se investir em Moçambique, principalmente num contexto em que o negócio do gás natural perde “brilho” por estar, cada vez mais, menos rentável, conforme foi anteriormente explicado.
Sobre esta situação, o Financial Times observou que para proteger os seus investimentos nos projectos de LNG, face a situação adversa que se vive, a multinacional petrolífera americana, ExxonMobil, decidiu fazer grandes cortes nas despesas operacionais e investimentos em dinheiro.
Na mesma lógica económica, apesar de manter 2024 como o ano de início de produção de gás natural na bacia do Rovuma, a petrolífera francesa, Total, anunciou o corte de um quinto nas despesas de investimento para este ano e reduções nos custos operacionais.
Recentemente, o Instituto Nacional de Petróleo (INP) veio a público9 recolheu que todas as multinacionais do ramo de exploração e pesquisa de hidrocarbonetos estabelecidas no país estão a rever os seus planos de negócios para acomodar os impactos da pandemia da covi-19 e a retração dos preços no mercado internacional com potenciais consequências no atraso do início da fase de produção dos projectos de LNG.
Como tudo isto a acontecer, no passado dia 15 de Maio, o banco norte-americano de importação e exportação, o EXIM Bank dos Estados Unidos da América (EXIM), aprovou um empréstimo de 4,7 mil milhões de dólares para apoiar empresas americanas, entre elas a McDermott International Inc., que irão fornecer serviços de engenharia, de construção e instalação de equipamentos para o desenvolvimento de projectos gás natural liquefeito (LNG) na província de Cabo Delgado.
Na verdade, a recente aprovação foi uma emenda ao empréstimo que tinha sido aprovado em Setembro de 2019 pelo Conselho de Administração do EXIM Bank dos EUA, após obter o no objection do Congresso norte-americano.
Apesar de o EXIM Bank ter revisto em baixa o crédito de 5 mil milhões de dólares para 4,7 mil milhões, a aprovação representa um balão de oxigénio para a indústria moçambicana de hidrocarbonetos, abalada pela pandemia da covid-19 e pela baixa de preços no mercado internacional.
O EXIM afirmou ainda que a celebração deste contrato de financiamento representava a reposição da hegemonia dos Estados Unidos da América (EUA) no controle das operações financeiras, envolvendo os negócios das multinacionais que exploram o gás natural no norte de Moçambique.
Neste cenário de incertezas e riscos financeiros, esta decisão do EXIM é, à partida, um sinal positivo para as perspectivas de desenvolvimento do sector extractivo nacional, no geral, e para o subsector de hidrocarbonetos, em particular, que pode ser catalisador para a transformação estrutural da economia nacional, se a governação do sector melhorar.
Os interesses norte americanos na exploração de hidrocarbonetos no norte de Moçambique se consolidaram em Junho de 2019, quando a multinacional Anadarko Petroleum Corporation (Anadarko Moçambique) e os seus co-ventures alcançaram a Decisão Final de Investimento (FID, sigla inglesa) para o desenvolvimento efectivo da Área 112, criando as condições para se avançar para a fase de construção. A Anadarko Moçambique era a empresa líder da Área 1 da bacia do Rovuma com 26,5% de participação, onde tinha como parceiros a estatal moçambicana Empresa Nacional de Hidrocarbonetos (ENH), com 15%, a Mitsui E&P Mozambique (20%), o ONGC Videsh. (10%), a Beas Rovuma Energy Mozambique (10%), a BPRL Ventures Mozambique B.V. (10%) e a PTTEP Mozambique (8,5%). No entanto, em Setembro de 2019, a Total E&P Mozambique Área 1 (Total) adquiriu os 26.5% da participação da Anadarko na área 1, por cerca de 4 mil milhões de dólares13.
Com a saída da Anardarko, os interesses americanos nos projectos de LNG em Moçambique passaram a ser representados na Área 4 de exploração offshore que é actualmente liderada pela Exxon Mobil cuja entrada nos negócios de hidrocarbonetos em Moçambique foi oficializada pelo Governo de Moçambique a 8 Novembro de 2017.
Trata-se de um projecto que prevê extrair cerca de 85 biliões de pés cúbicos de gás natural, cujo valor de investimento está estimado entre 25 e 30 milhões de dólares a ser comparticipado pela Mozambique Rovuma Ventures, que é uma joint venture entre a ExxonMobil (25%), a italiana ENI (25%), a China National Petroleum Corporation (20%), a portuguesa Galp Energia (10%), a sul-coreana Kogas (10%) e a ENH (10%).
No entanto, de certa forma, este investimento do EXIM representa uma retoma americana no controle do capital financeiro e operacional, pelo menos, na fase de construção, do projecto de LNG na Área 1. É também importante notar que os 4.7 mil milhões disponibilizados pelo EXIM financiam apenas as actividades americanas na Área 1da bacia do Rovuma.
Portanto, não contempla o projecto Rovuma Venture liderado pela ExxonMobil e que, cuja Decisão Final de Investimento (FID) deveria ter sido anunciada no ano passado, mas foi adiada, com apenas um anúncio inteiramente artificial de “Decisão intermediária de Investimento” para apoiar a campanha presidencial de Filipe Nyusi.
Infelizmente, para além da problemática governação do sector extractivo que atribui excessivos privilégios às multinacionais petrolíferas e, por esta via, adia os benefícios para a população moçambicana, o mau desempenho económico do sector extractivo Moçambicano será piorada pelo ónus da pesadíssima dívida pública nacional que não só torna difícil a atracção de financiamento como agrava o custo dos empréstimos relacionados a Moçambique, a ponto de os projectos de LNG da bacia do Rovuma serem os mais caros do mundo.
Este custo será pago pelos cidadãos moçambicanos. Se somarmos o custo de construção no projecto da Área 1 (57 mil milhões de dólares, incluindo os custos de prospecção do Campo Golfinho) ao custo de construção no projecto da Área 2 (52 mil milhões de dólares), o Complexo de Afungi tornar-se-á no projecto de LNG mais caro de sempre em todo mundo.

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *